“A Natália tem essa mania de querer transar. Eu falo vamos ficar abraçadinhos, ver filme, tomar vinho. Esse negócio de transar dá o maior trabalhão. Eu tenho que tirar a sua roupa, com carinho, claro. Tirar a minha, deixar você excitada, ficar com o pau duro, transar, fazer você gozar, e ainda tenho que gozar. Sério, vamos ver uma série nova.” Natália só ri, enquanto ouve o marido fazer graça.
Parece brincadeira – e é brincadeira, mas é também uma fala recorrente de um amigo, portanto eu acredito que tenha um fundo de verdade. Transar dá trabalho, claro. Mas a gente sente menos quando é mais jovem e quando está solteiro. Topamos um rala-e-rola até numa terça chuvosa às 3h da manhã. Jogue a primeira pedra quem nunca cedeu a um “booty call” num momento de carência e estiagem sexual.
Começo de namoro e de paixão também é sempre aquela lambança. A gente trepa como coelho. Não come, não dorme, não respira, não vai ao banheiro, não trabalha direito. A voz da pessoa no outro lado da linha é o suficiente para dar aquele comichão no meio das pernas. Nada mais é importante do que trocar fluídos por todos os poros. Dentro do carro, na escada da balada, no sofá e, veja só, até na cama.
Então, o namoro se estabiliza, o dia a dia do casamento atropela o tesão. E você que era uma espécie de Hilda Furacão chega aos seus dias de tempestade tropical. Mas a gente é cobrado de todos os lados em manter a chama em fogo alto. E essa cobrança é um saco. Eu me sinto “devendo” a mim e a meu marido cada vez que ouço uma amiga casada dizer que transa quatro vezes por semana. Ou uma solteira revelar suspirando que tem orgasmos duas vezes por dia com o novo peguete.
Além do pessoal gozar literalmente na minha cara, tem sempre uma pesquisa que insiste em dizer que casais felizes fazem sexo, no mínimo, duas vezes por semana. E aí eu pergunto, será que o sexo é realmente o termômetro mais importante na felicidade de alguém? O que vem antes: a felicidade ou o sexo?
Ok, duas vezes pode ser melhor do que uma, e uma é certamente melhor do que nenhuma. Mas não entendo como chegaram a esse número e só vejo isso como algo a mais para a gente colocar em nossa listinha de tarefas não cumpridas. Como se sexo só tivesse um efeito terapêutico ou seja lá o que for se feito com a frequência com que se vai à academia ou com que comemos vegetais verde escuros durante a semana.
Já ficou para trás a teoria de que homens precisam de mais sexo do que as mulheres. Tesão é individual e variável. Uma amiga reclama que o marido só quer transar uma vez por semana. Ele está feliz assim, ela, não muito. E aí, o meu ponto. Mais do que chegar ao final da semana sentindo-se miserável porque não comeu cinco porções de legumes, não foi à academia três vezes e não gozou mais duas, a gente deveria olhar para a balança e ver se estamos felizes.
Cada pessoa e cada casal precisa se preocupar em encontrar seu próprio equilíbrio e não colocar sexo na mesma lista de tarefas onde estão ir ao supermercado, lavar a louça, passar o aspirador de pó. Ninguém se obriga a ir ao cinema ou a jantar fora, tampouco sente-se fracassado quando se dá conta de que não tem tido tempo nem para uma coisa nem para outra, ainda que tudo isso seja muito prazeroso.
Portanto, não é somente sexo que nos dá a real noção de intimidade. Cada casal tem a sua fórmula. Acenderia um alerta se eu percebesse que eu e meu marido não nos beijamos mais com frequência ou não passamos mais tempo agarradinhos no sofá vendo um filme ou deixamos de dizer eu te amo – não de um jeito automático, mas cheio de carinho.
Há casais que têm rotinas diferentes e só conseguem estar juntos nos finais de semana. Tem gente que trabalha demais, tem filhos demais, rotina demais, estresse demais e tesão de menos. Sexo não pode ser mais uma obrigação nessa contabilidade.
Muitas vezes vou dormir antes do meu marido, em outras é ele quem apaga antes que eu chegue na cama. E em muitas noites a gente está tão cansado que tudo que quer é o colo um do outro e uma boa noite de sono. Mas daí tem uma semana animada, que pode rolar de manhã ou à noite, de manhã e à noite. Tiramos férias e temos tempo de fazer só o que querermos, e isso inclui transar todos os dias, mais de uma vez por dia.
É claro que a gente não pode deixar que o dia a dia, o cansaço e a preguiça nos engulam. Mesmo adorando fazer atividade física, nem sempre estou a fim de fazer – porque estou cansada ou com preguiça. Se não me esforçar um pouco e esperar que eu só troque o sofá pela esteira quando estiver disposta, vou embarangar vendo TV.
Com o sexo é a mesma coisa, usando essa teoria, não dá para esperar todos os dias pela condição ideal. Relacionamento precisa de amor, mas precisa de tesão. E em prol do amor, o tesão precisa ser exercitado. Muitas vezes terá de ser com sono, com cansaço, com o trabalho atrasado, numa segunda de manhã ou numa quarta à noite depois de colocar as crianças para dormir. Que seja com a frequência melhor para cada um, mas que seja. O que não dá é bater ponto duas vezes por semana por causa de uma pesquisa ou porque seus amigos fazem assim. Pior do que não fazer sexo é fazer por obrigação. Broxante, certo?
Sou seu fã de carteirinha. Adoro tudo que vc escreve e como escreve.
Mauricio, querido!! Saudade!
Me2. Ao ler seus textos parece que estamos conversando. Você fala com os leitores. Adoro seu estilo de escrita. (Ia falar que invejo, mas não tive coragem…ehehehe)
Cada texto seu é melhor que o anterior!
Sinto que já nos tornamos conhecidas pela frequência em que você fala cmg pelos seus textos rsrsrs
Sou apaixonada pelas suas colunas… mulher, como você é boa nisso!
Sucesso, Mariliz ;D
Todos os dias rs
Olá, Mariliz.
Há tempos leio seu blog e sua coluna na Folha e, realmente, sempre dá vontade de ler mais.
Parabéns, não só pela forma com escreve, mas também pelos temas que aborda.
Em relação a esse gostaria de acrescentar que rotina não é algo necessariamente ruim. Por vezes sinto que é mais uma conquista que vem com o tempo. Oq eu não podemos deixar é que essa rotina seja opressiva às vontades naturais. Tem vontade, faça. Não teve tempo, programe-se.
Parabéns!
Bom post!
Já cadastrei o rss no meu leitor de feeds para receber as novas postagens.
Abs.
Pingback: Fazer mais sexo não significa ser mais feliz, diz pesquisa | 40etralala
Só tinha lido teus comentários sobre futebol, que confesso, não achei tão interessantes. Mas acabo de ler “Quantas vezes por semana é preciso transar para ser feliz?” . Muito bom, parabéns.