Para Harper’s Bazaar
Há alguns anos entrevistei a então CEO da Veuve Clicquo, Mireille Guiliano, durante o café da manhã. Tomamos champanhe. Na despedida, ela gentilmente me presenteou com uma garrafa. Vou reservar para um dia especial, eu disse. “Todos os dias são. Beba o champanhe, brinde qualquer coisa e guarde as lembranças com você”, ela sugeriu.
Então, me dei conta que mesmo as pessoas mais alegres que conheço celebram muito pouco. A gente fica à espera de momentos mágicos, de acontecimentos marcantes, de mudanças radicais, de surpresas retumbantes em nossas vidas para colocar um champanhe para gelar. Vivemos uma rotina de segunda à sexta, onde evitamos excessos, obedecemos horários, usamos roupas caretas. Como se a felicidade maior só coubesse nos finais de semana, nas férias, nas festas de fim de ano, no dia dos namorados, na formatura.
Desde aquela manhã eu comemoro tudo. Se chego em casa depois de uma dia feliz, comemoro. Se tudo deu errado, brindo por dias melhores. Celebro o por do sol, a chuva, as noites quentes na varanda, o friozinho no sofá. Amigos que chegam e também os que se vão. Aos dias em que a lombar não incomoda, que as dores de cabeça me deram trégua, assim como os ataques de ansiedade. Quando os sinais estão todos verdes e chego sem pressa onde preciso ir.
Fico tão feliz quando abro a porta e sinto aquele cheirinho de limpeza de quando a Ivonilde passa aqui em casa, que sirvo uma taça e agradeço por tudo e por nada especificamente. Brindo a gravidez de uma amiga, o trabalho novo de outra, as férias de um colega, a foto feliz do casamento de alguém que nem conheço direito.
Na semana passada, finalmente resolvi um problema de espaço em minha cozinha. Uma prateleira novinha comprada numa casa qualquer de material de construção, mas que deixou a coleção de temperos que temos mais bonita e mais fácil de usar. Chamei amigos e comemorei com um jantar. Celebrar nada mais é do que nos alimentar emocionalmente.
Comemoramos pouco porque somos duros e exigentes demais com nossas próprias vidas. Só nos permitimos massagear nosso ego quando superamos expectativas quase sempre enormes. A vida é um dia de cada vez, mas a gente está ocupado demais com os grandes acontecimentos e não presta atenção aos detalhes que constroem aos poucos nossos castelos.
Sempre achei meio hippie aquele discurso de que o importante não é o destino, mas como percorremos diariamente o caminho até ele. Não gosto de tribos e muito menos de rótulos, mas estou convencida de que a gente precisa mesmo viver de uma forma mais leve. Se isso esbarra numa filosofia de vida mais zen, jogo a toalha e visto a carapuça, porque tenho procurado olhar com mais alegria para os detalhes. Apenas quando celebramos as pequenas conquistas temos a dimensão exata de como nossa vida tem sido bem vivida.
Ainda assim vivemos um paradoxo. Se cultivo minha autoestima e divido minhas vitórias, muitas vezes sou julgada por me autopromover. Parece uma cilada. Mas há um tempo percebi que a mensagem correta chegará às pessoas que vibram na mesma energia. Gente, que mesmo sem me conhecer intimamente entende a importância de exaltar as pequenas conquistas. Mesmo que elas não sejam nossas. É um exercício coletivo diário de felicidade.
Não é sempre que tem champanhe francês aqui em casa. Como as celebrações passaram a ser muitas, as idas ao free shop não dão conta de abastecer e minha super-mini-adega. Vai com o que tem, o importante é o ritual. Às vezes tudo que a gente precisa para eternizar um momento é uma cerveja bem gelada e aquele barulhinho mágico de quando a lata se abre. Quando a gente bebe para celebrar, inunda a alma de alegria.